A VIDA EM PRIMEIRO LUGAR!
"Eu vim para que todos tenham vida e vida plenamente” (Jo 10,10).
Estas palavras de Jesus devem inquietar os corações de todos os cristãos e despertá-los para defenderem a vida, incondicionalmente, em todas as circunstâncias. Todas as vidas importam! A defesa da vida é para o cristão uma missão permanente, defender a vida desde a sua concepção até o seu final natural. A vida é dom de Deus, sagrada, intocável, que deve sempre ser preservada, respeitada e tratada com dignidade, ocupando sempre o primeiro lugar, em qualquer projeto econômico/politico/social.
Neste sentido a igreja celebra no dia 7 de Setembro o seu 26º Grito dos Excluídos, ou seja, desde 1994 a igreja convoca os seus fiéis para refletir sobre os verdadeiros valores da vida e tudo aquilo que diz respeito à sua dignidade. Neste ano, somos convocados a fazermos ressoar, do mais profundo do nosso ser, o grito “a vida em primeiro lugar”, convocando a sociedade para dar um basta à miséria, ao preconceito e a repressão. Numa busca incessante para que todos possam ter Trabalho, Terra, Teto e Participação: condições fundamentais para uma vida digna.
A pandemia, em que estamos vivendo, estampou, de maneira mais visível, uma realidade que, muitas vezes, não queremos ver: a quantidade de pessoas que vivem na miséria, invisíveis, sem ter um teto para poder ficar em casa. A expressão “fique em casa” deu lugar a uma nova frase: “Se puder, fique em casa!” Essa mudança acontece, não por acaso, muitos precisam sair para trabalhar ou prover as condições de sobrevivência, mas muitos, não têm um trabalho e nem mesmo uma casa para ficarem. Esta é a realidade de uma sociedade egoísta que coloca o capital acima da vida gerando a morte, para esta sociedade a vida de muitas pessoas não importam. O Brasil já ultrapassa a casa de 120.000 mortos pela Covid-19, mas para muitos são somente números. Não são só vidas que se foram, são famílias passando por grandes sofrimentos, sem esperança. Não são somente as mortes pela Covid-19, existe uma pandemia causada pelo vírus da violência, pela fome, pela falta de saúde, ou seja, pela falta de políticas públicas que protegem, salvam e dignificam a vida das pessoas.
Diante desta realidade somos chamados a criarmos a pandemia da Solidariedade, nos colocando ao lado daqueles que estão excluídos e gritarmos contra todo sistema que mata, oprime, discrimina e cala.
A pandemia mostrou que o ser humano pode tirar o melhor de si e transformar em gestos de solidariedade, partilha e socorro aos que estão passando por grandes necessidades. É bonito de se ver que, do meio dos mais pobres, surgem gestos de partilha, do pouco que se tem para com aquele que nada têm. É bonito de se ver pessoas que disponibilizam dos seus bens para se solidarizarem e amenizarem o sofrimento de muitos. É bonito de se ver pessoas que se colocam à frente nos serviços essenciais para cuidarem e protegerem a vida onde ela corre perigo: Profissionais de Saúde, da limpeza e etc, nos dão um grande exemplo, fazendo de suas vidas um serviço para o bem da humanidade. A pandemia também mostrou que o ser humano pode tirar o pior de dentro de si: é triste de se ver as atitudes de ódio, intolerância, discriminação e sobretudo a corrupção que desvia o dinheiro público, que deveria salvar vidas, para o enriquecimento ilícito de grupos seletos. Essas atitudes devem ser punidas de maneira exemplar.
Que as nossas atitudes sejam de solidariedade e cuidado, nos conduzindo para construção da “civilização do amor”, na construção de uma sociedade Justa, Fraterna e Solidária; onde “a vida esteja em primeiro lugar”, onde os bens da criação estejam a serviço de todos! Que nossas atitudes de vida nos levem a ouvirmos a voz do Mestre que diz: “Vinde Benditos de meu Pai… Eu estava com fome e vocês me deram de comer, eu estava com sede e vocês me deram de beber, eu estava nu e vocês me vestiram, eu estava doente ou preso e vocês foram me visitar,eu era estrangeiro e Peregrino e vocês me acolheram em sua casa. … Todas as vezes que vocês fizeram isso a um destes pequeninos foi a mim que vocês fizeram”(Mt 25,34-41).
Paz e bem!
Dom João Aparecido Bergamasco SAC.
Bispo da Diocese de Santa Cruz de Corumbá/MS