Vinde Espírito Santo, presença viva de Jesus Cristo Libertador.

A semana passada, refletimos sobre o mandato de Jesus: “Ide”.  Hoje, Domingo de Pentecostes, estamos refletindo sobre a grandiosa experiência da vinda do Espírito Santo, que espanta os medos, abre as portas e janelas, e todos como ébrios da glória de Deus, começam a falar na língua que cada um consegue entender. Homens “incultos”, medrosos, gente do povo, conhecidos, começam a anunciar algo quase que incompreensível, a Ressureição, o Reino de Deus, Batismo, vida em comunidade, fraternidade, todos conceitos muito novos, que soavam forte e possíveis de se viver, graças ao entusiasmo com que falavam.

Os seguidores do Nazareno, não tinham mais o que temer. Ele, estava com eles com uma nova presença, o Espírito de Deus, que ninguém vê, mas sopra e age onde quer e como quer. Pentecostes traz um novo jeito de se viver. É possível, que cada um nas suas riquezas e fragilidades possa viver a Boa Nova do Reino. Não precisa fazer parte de nenhuma linhagem religiosa, política ou ideológica para experimentar a grandeza da força do Espírito Santo. O conceito de Povo eleito se estende não a uma só região específica, ele se torna em atitude de alguém que acredita em Jesus Cristo e vive o mandamento do amor, seja de onde for. Não é mais um mapa territorial, ou a marca da circuncisão que definem que é e quem não é seguidor do Caminho. O que define se pode ou não seguir o Mestre, é a abertura de coração e o desejo de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

O Espírito Santo apresenta o Cristo Libertador na Humanidade. Jerusalém é o ponto de lançamento, mas não será mais o único espaço privilegiado de profetas. O mundo todo é Reino de Deus, portanto é importante, que cada canto da terra seja agraciado com este anúncio, que todos, homens e mulheres de todos os tempos, sejam batizados em nome da Trindade e formem comunidades do Senhor. E aí nascem as comunidades cristãs e apostólicas, que depois recebem o nome de Igreja.

Os frutos do Espírito Santo logo se fazem notar. Aqueles que aderiam ao projeto do novo Reino tinha três características que os destacavam: eram perseverantes na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações (Atos 2,42). O Espírito Santo não mudou sua inspiração, Ele foi, é e será sempre o mesmo. Os seus frutos não perecem, pelo contrário, se aperfeiçoam cada dia mais, quando encontram corações verdadeiramente abertos, dispostos a fazê-los frutificar ainda mais. Após a grande euforia do primeiro dia, os apóstolos entenderam, que o mundo é muito maior que Jerusalém e as suas adjacências, era preciso seguir o que o Mestre havia orientado: “Irem”.  E se espalharam pelo mundo fora falando de amor e vivendo de amor, um amor, que não faz diferença de ninguém. Todos eram destinatários da Palavra e da Comunhão. Esse amor era tão grande, que aqueles que tinham mais, vendiam suas riquezas e partilhavam com os que tinha pouco ou nada, e assim entre os seguidores do Mestre não haviam necessitados e nem esbanjadores, cada um tinha o que precisava para viver com a dignidade de Filho de Deus (Atos 4,34).

Pentecostes é isso. É ser a Igreja de hoje com os princípios da Igreja original. Os filhos dos homens, pode até serem tratados com diferenças, mas os filhos de Deus não, Ele  ama todos do mesmo jeito, e sofre cada vez, que um deles é maltratado, menosprezado ou humilhado. A dor que fere o coração de um pai quando vê o sofrimento de um dos seus filhos, fere também de uma dor mortal o coração de Deus quando alguém não respeita um filho seu.

Ao longo dos tempos, a Igreja primitiva em todo seu vigor, foi se deixando contaminar-se pelas fraquezas humanas, e assim, pouco a pouco foi se distanciando do projeto original de Reino. O Diabo cujas tentações,  Jesus havia derrotado no deserto, quando fez sua quarentena em preparação à sua entrada em cheio na inauguração do Novo Reino, volta agora e aos poucos se infiltra novamente nos desejos dos seguidores do Mestre, e consegue um amplo espaço. E a assiduidade e a perseverança iniciais da Igreja, começam dar espaços para atitudes nada cristãs, que não têm nada a ver com o verdadeiro amor.

Assim ao longo destes dois milênios, a Igreja vira e mexe, se vê às voltas, precisando de um novo sopro do Espírito. A nossa geração, dos anos 2020, é uma geração, que hoje assim como no princípio, necessita urgentemente de um novo sopro. Não somos ruins, mas nos deixamos tomar pela divisão entre santos e pecadores, nos colocamos na horrível perspectiva dos merecimentos: aos bons segundo nossos critérios tudo, mas aos maus sempre segundo nosso julgamento, nada. Temos entre nós pessoas que se empanturram até adoecerem, enquanto outros adoecem e morrem de fome. Vivemos a luta do poder pelo poder, do ter como possibilidade de subjugar o outro. É hora de um novo Pentecostes, que nos ensine a sermos mais irmãos dos irmãos, mais filhos de Deus.

Na Primeira Carta aos Coríntios São Paulo faz uma linda descrição sobre a força do Espírito Santo, ninguém diria que Jesus é o Senhor se não fosse pelo Espírito, e diz mais, existem tipos diferentes de dons espirituais, mas o mesmo Espírito é a fonte de todos eles. Existem tipos diferentes de serviço, mas o Senhor a quem servimos é o mesmo. Deus trabalha de maneiras diferentes, mas é o mesmo Deus que opera em todos nós. A cada um de nós é concedida a manifestação do Espírito para o benefício de todos (1 Cor 12,4-7).

Então a Igreja não tem por que viver dividida, ou seja, cometer a injustiça e a violência de querer que todos façam tudo da mesma forma. Nesta Igreja, Corpo Místico de Cristo, cada cristão  é um membro e cada membro tem a sua função e deve cumpri-la com maestria para que esse corpo funcione com perfeição. Quando um membro se acha no direito de tripudiar outro porque é mais frágil, achando-se superior, comete pecado grave contra o Espírito Santo, que é o distribuidor dos dons, e os distribui segundo o seu critério, não precisa pedir licença para ninguém. É a harmonia dos dons, que faz da Igreja um reflexo do grande amor da Trindade, que é o modelo perfeito de vida em comunidade.

Que este Pentecoste, tão especial, ajude-nos a atualizarmos, que o Espírito Santo é quem gera Cristo em nós e na Humanidade. Para sermos profetas, discípulos missionários, precisamos permitir, que o Espírito faça sua morada em nós, para acolhermos Jesus na pessoa dos irmãos mais vulneráveis, nos mais pobres e descartados pelo mundo, que ainda não descobriu quão maravilhoso é servir a Senhor Ressuscitado e vivo no meio de nós, presença sensível pela força e pela graça do Espírito.

É hora de sermos um outro Pentecostes em nossas comunidades. É tempo de cuidar do maior dom de Pentecostes: a vida do outro.