Mais que um beijo, um comprometimento com a vida!
Claro, estou tomando posse canônica, mas vocês tomam posse da minha vida, do meu ministério.
Na última, quarta-feira dia 02, a Diocese de Colatina ES, mandou um recado para o mundo: “a verdadeira Igreja tem um lado, o lado dos pequenos, dos empobrecidos, daqueles deixados à margem”. Dom Lauro, o novo Bispo daquela Diocese, na sua cerimônia de posse, foi além de todos os protocolos e rituais, agachou-se até próximo o chão, para beijar os pés de todos os Povos e Nações Indígenas de todo esse quase continente chamado Brasil, na pessoa do Querido Irmão Indígena, Antônio Carlos.
Esse beijo não é apenas um beijo, ele é um gesto profético, daqueles que foram ungidos para anunciarem a boa nova aos pobres e anunciarem o ano da graça se comprometem com a vida e causa dos desvalidos. Lavar os pés é unção, mas beijar é comprometer-se não só de corpo, mas de alma e de afetos, é assumir sem medos e sem prejulgamentos a vida de quem está ao seu lado, é enxergar quem foi invisibilizado pela arrogância, a ganância e pelo espiritualismo despido de espiritualidade.
Dom Lauro beijou os pés dos Povos Originários, e conclamou: “nós queremos sempre ser a Igreja sempre mais fiel ao Evangelho de Jesus. Uma Igreja pobre nos seus meios e para os pobres. E se há alguém com quem nós temos uma grande dívida, são os povos indígenas”. E aqui a profecia ecoa como um grito, que brota do mais profundo de um coração, que reconhece nos mais humilhados, a verdadeira presença de Jesus Cristo, Humano, desumanizado pela barbárie do egoísmo não de estranhos, mas principalmente de quem se diz amante de Deus e do seu Reino.
O beijo dado por um Bispo em Colatina, ressoou por toda a Igreja do Brasil, desafiando aos seus fiéis, a terem coragem, de beijarem, de abraçarem e de acolherem a todos, sem exclusão ou predileção. O que Dom Lauro, disse ao Antônio Carlos, o disse a todos os homens e mulheres que dizem ter fé, e o que disse do seu episcopado, o disse a todos os seus irmãos, que dividem com ele a mesma missão. Eis suas palavras: “então querido irmão Antônio Carlos, eu gostaria que você recebesse esse gesto, dirigido a todos os povos originários e a todos os sofridos. Somos chamados a lavar os pés uns dos outros, sermos servidores uns dos outros. O episcopado não é uma honraria é um serviço”, concluiu o novo Prelado de Colatina.
Esse beijo, não é só mais um beijo, é o sopro do Espírito, que quer arejar os recantos mais sombrios e escuros da nossa fé. O beijo episcopal nos pés de um simples irmão, os coloca no mesmo nível, filhos de Deus, irmãos a caminho. Dom Lauro, desperta em nós, o que Jesus nos diz todos os dias em nossas orações e celebrações, “amai-vos uns aos outros”.
Mesmo em meio a tantos sinais de mortes, o Espírito nos beija e nos grita, que é a hora da vida e da vida em plenitude.
Em meio a tantas atitudes de desigualdade e de discriminação, um simples beijo nos alerta para a conversão, lembrando-nos, que o Cristo que seguimos, deixou bem claro, que não veio para quem não precisa de saúde, mas veio para aqueles, que se tornaram enfermos pelas dores do desprezo e do abandono.
Em tempos de tantos conflitos e desconfortos, um beijo, fez e fará uma grande diferença, e com Dom Lauro, cada um de nós, cristãos deveríamos dizer lá onde Deus nos colocou para testemunhar sua presença: “hoje a Igreja de Colatina recebe e toma posse seu quarto bispo. Claro, estou tomando posse canônica, mas vocês tomam posse da minha vida, do meu ministério. Aqui estou para servir e amar com alegria”.
Colatina nos avisa, que mais que um beijo, Dom Lauro como um enviado de Deus, sucessor dos apóstolos, nos convoca para um verdadeiro e autêntico comprometimento de vida com a vida, a história e os sonhos dos outros.
Imagem de Tobias Gerlin/Diocese de Colatina