X Encontro da Juventude Indígena Terena: o que os olhos viram o coração sentiu!
A Terra é sagrada, mas não é qualquer terra. Terra Sagrada é a terra que acolheu os ancestrais, a Terra que abriga os encantados, que nos momentos de grandes encruzilhadas, protegem o Povo e iluminam seus caminhos.
Essa expressão corrobora uma experiência juvenil grandiosa que já se repete há 10 anos. Quando a gente pensa que a Juventude tem tudo para surpreender, aí é que ela surpreende mesmo. Entre os dias 11 e 14 de julho deste ano, cerca de 300 jovens indígenas da Nação Terena da Diocese de Jardim, Mato Grosso do Sul, se reuniram pelo décimo ano consecutivo para pensarem sobre as suas realidades de Nação Indígena.
O X Encontro foi uma verdadeira riqueza de formação, reflexão e celebração. Para se ter uma ideia de quão grande e católico foi, o encontro, teve como abertura uma Solene Missa celebrada por um Bispo, Dom Henrique Aparecido de Lima, Bispo de Dourados e Referencial das pastorais sociais; e uma missa no encerramento, presidida por Dom Joao Gilberto de Moura, Bispo Titular da Diocese de Jardim. Para marcar ainda mais a eclesialidade do Encontro, o Pároco, Pe. Paulo esteve presente quase todo tempo do evento, ausentando-se apenas, quando deveria celebrar em outras comunidades.
O evento acontece cada ano em uma aldeia escolhida sempre no encontro anterior, este ano foi a vez da Aldeia Limão Verde acolher essa grande multidão de jovens.
O tema de fundo que permeou todas as ações do encontro foi a ÁGUA. A primeira reflexão foi conduzida pelo Ir. Silvio da Silva, Secretário Executivo do Regional Oeste 1, que inclusive esteve presente durante todos os dias do encontro. O assessor trabalhou o tema em três perspectivas: a bíblica, importância e significado da água na história dos povos da bíblia; a água como força transformadora das realidades humanas e espirituais; e por fim a água em todas as culturas, principalmente a importância da água na vida e na história dos povos Indígenas e Tradicionais. Cada reflexão, foi seguida de um aprofundamento em grupos por aldeias, cerca de sete aldeias.
A segunda reflexão foi conduzida pelo Pe. Miguel, da Arquidiocese de Campo Grande, e versou sobre o tema Juventude e Família. Segundo o Pe. Miguel, os jovens são a fecundação da humanidade futura, e é por isso que a juventude precisa ter o sabor de Deus e carregar em suas vidas, os valores da Igreja. É preciso não ter medo de identificarem a voz de Deus tocando em seus corações, e abrirem-se para o Espírito que conduz o novo.
A terceira intervenção, veio assim carregada de riquezas culturais, foi uma abordagem profundamente identificada com o encontro. Esse momento tão singular foi conduzido por uma Mulher, Indígena da Aldeia Limão Verde, então, é gente de casa, a Naine Terena, Professora da Universidade Federal de Mato Grosso, em Cuiabá. Segundo ela, a raiz profunda da resistência está na consciência que o Povo tem de si e da sua origem. A Terra é sagrada, mas não é qualquer terra. Terra Sagrada é a terra que acolheu os ancestrais, a Terra que abriga os encantados, que nos momentos de grandes encruzilhadas, protegem o Povo e iluminam seus caminhos. A cultura é essencialmente terra, ligada ao ambiente que produz alimento, que dá sustentação e força às pessoas. Não se pode viver feliz sem o vínculo com a própria terra, é por isso, que muitos Indígenas que estão vivendo em outros ambientes, sempre que podem retornam para reenergizarem-se pisando o chão, silenciando nas matas, e bebendo das fontes, que lhes trouxeram à vida.
Os retornos, que vieram dos grupos nos três momentos foram muito ricos em conteúdo, mas principalmente de vida e de mística. De todas as falas, se pode fazer uma síntese: “Não existe vida sem a preservação da água e com ela, a preservação de toda a natureza. E a sobrevivência da Nação Terena está ligada diretamente à posse da Terra Tradicional, que lhe viu nascer e crescer cada Terena, e que recebeu os seus Ancestrais, que continuam vigilantes para que o Povo possa viver em paz e em felicidade, nas suas famílias, criando as novas gerações, educando-a na Cultura Terena com tudo o que lhe é característico. Há uma urgente necessidade de recuperar a Língua Materna, para que não sucumba toda a Nação”.
O dia iniciava sempre com a oração da manhã, e depois ao longo do dia entre uma atividade e outra, uma Aldeia era encarregada de fazer o momento de oração com as mais variadas místicas. Se pode perceber, que não foi só um encontro, mas também um tempo de forte espiritualidade e celebrações.
O final de cada dia era comemorado com uma noite cultural, onde os grupos apresentavam em forma de artes, aquilo que se viveu ao longo do dia. E o encerramento sempre se fazia com a oração da noite.
Em um relato como este, não dá para expressar o que se viveu e se sentiu no X Encontro, mas certamente todos os momentos estarão gravados e tatuados no coração, na mente e na alma de cada participante, que ali se fez presente.
E em nome de todos os Indígenas assassinados foi homenageado de uma maneira muito real, com toda a dor que se pode sentir em uma perda de alguém, o Líder Terena, Oziel Gabriel, assassinado barbaramente pela Polícia Federal no dia 30 de maio de 2013 na Fazenda Buriti. O Sangue de Oziel e de todos os outros, que ainda clama por justiça e respeito pelas Nações Indígenas, é alimento para as almas jovens continuarem lutando sem jamais desistirem pela manutenção da suas Terras e dos seus espaços, que lhes geraram e lhes criarão como Pessoas, Cristãos e Cidadãos.
E como sempre acontece em todos os encontros, momentos antes da celebração final, os jovens reunidos por aldeias, elegeram a Sede do XI encontro, que será na Aldeia de Morrinhos, onde se debruçarão sobre o Tema: Cultura Terena e como iluminação o Lema, “Ide, fazei discípulos meus”.
O X Encontro se encerrou com uma Santa Missa Solene, e um almoço, um suculento churrasco, fruto de partilhas de todas as comunidades, e principalmente da Paroquia Nossa Senhora Imaculada Conceição de Aquidauana.
Na avaliação de todos os presentes, o X Encontro foi de uma grande positividade. E o destaque ficou por conta da presença marcante e assídua do Pe. Paulo. Segundo os participantes, pela primeira vez tiveram um padre com eles, e sempre à disposição, durante todo o encontro.
E agora já se começa sonhar o XI Encontro de Jovens Terenas para 2020 em Morrinhos.