SEMANA NACIONAL DA VIDA

A VIDA EM LEILÃO?

Outra vez cá estamos nós, em mais uma semana de luta em defesa da vida. Não há nada mais paradoxal, do que ter que lutar para que o bem mais sagrado da criação seja defendido. O normal, é que os maiores tesouros, sejam preservados e cuidados com todo o esmero, que se pode ter.

O Art. 5º da Constituição Brasileira, diz “que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida”. Eis alguns sinônimos da palavra inviolável: sacrossanto, sagrado, intangível, intocável, invulnerável. Isso significa, que a vida está acima de quaisquer situações ou circunstâncias, e jamais pode ser tocada seja por que motivo for.

A Igreja Católica, Apostólica, Romana, que somos nós, não tem nenhuma dúvida da inviolabilidade da vida, e a sua Doutrina, expressa no parágrafo  2270 do seu Catecismo é muito clara e ensina: “ a vida humana deve ser respeitada e protegida de maneira absoluta a partir da concepção. Desde o primeiro momento de sua existência, o ser humano deve ver reconhecidos os seus direitos de pessoa, entre os quais o direito inviolável de todo ser inocente à vida”.  A defesa da vida pela Igreja não é nenhuma novidade, mas para quem às vezes fica em dúvida, sobre o que realmente caracteriza o desrespeito à vida, o Vaticano II na Gaudium et Spes, ao número 27, traz uma longa lista de ações, que violam a vida e ofendem a Deus: “tudo quanto se opõe à vida, como seja toda a espécie de homicídio, genocídio, aborto, eutanásia e suicídio voluntário; tudo o que viola a integridade da pessoa humana, como as mutilações, os tormentos corporais e mentais e as tentativas para violentar as próprias consciências; tudo quanto ofende a dignidade da pessoa humana, como as condições de vida infra-humanas, as prisões arbitrárias, as deportações, a escravidão, a prostituição, o comércio de mulheres e jovens; e também as condições degradantes de trabalho; em que os operários são tratados como meros instrumentos de lucro e não como pessoas livres e responsáveis. Todas estas coisas e outras semelhantes são infamantes; ao mesmo tempo que corrompem a civilização humana, desonram mais aqueles que assim procedem, do que os que padecem injustamente; e ofendem gravemente a honra devida ao Criador”.

Portanto, defender a vida, não é só não abortar ou tolher a vida de alguém para livrá-lo do sofrimento, mas é tudo e qualquer atitude ou ação, que fere a pessoa na sua dignidade. Hoje como nunca, é fácil encontrar em nossos ciclos de convivência, inclusive em meio ditos católicos, pessoas, que se batem de forma quase que ensandecida contra o aborto, mas defendem a morte de pessoas, que cometeram crimes. Isso  quer dizer, que a defesa da vida para estas pessoas é muito parcial, defendo quem eu gosto ou sinto pena, mas apoio completamente que sejam eliminados aqueles, que não gosto ou de quem não sinto nenhuma pena.

Quando falamos da SEMANA DA VIDA, estamos falando de toda a vida, e não importa em que situação ela se encontra, se no ventre, no cárcere, nas ruas ou em berço esplendido. Vida é vida. E todos, sem exceção, somos obrigados a cuidarmos, para que a sua integridade continue, desde sua gestação até ao seu declínio natural.

Este ano a CNBB traz para a nossa reflexão e vivência da Semana da Vida, que inicia dia 01 de outubro e irá até o dia 08, o seguinte tema: Família, Santuário da Vida, um tema, que de antemão corrobora o que dissemos até agora, santuário é um espaço sagrado, onde para se adentrar, todo cuidado é pouco, para que nada seja nem sequer arranhado. Assim é a vida, nada pode voluntariamente arranhá-la. Em 1974, a Congregação para a Doutrina da Fé, em sua Declaração sobre o aborto provocado, dizia, “o primeiro direito de uma pessoa humana é a sua vida. Ela possui outros bens, e alguns deles são mais preciosos; mas este é o bem fundamental, condição para todos os outros”.

É por isso, que defender a vida não é nenhum ato de solidariedade, é inerente à vida humana e principalmente à fé, de quem diz acreditar em Deus e defende o fundamento do Evangelho. Não dá para comungar o Corpo de Cristo, se se despreza, descarta, fere e até mata o Corpo do Irmão. Quem defende a vida apenas parcialmente, não tem fé, ou vive uma fé de faz de conta, de aparências. Ir à missa aos domingos, e estender a língua para a hóstia é ritualismo, desencargo de consciência, porque fé de verdade, é estender a língua para a comunhão e a mão para o irmão caído, sem ficar se importando com o motivo da sua queda, mas assumindo em sério os motivos da sua vida.

Um católico, que não defende a vida em toda sua extensão e condição não é católico. Sua fé é tão paliativa, como o são os seus discursos. Rezar aos domingos, ajudar com cestas básicas e até dinheiro apenas uma causa, não é caridade, é farisaísmo. E foi contra o farisaísmo que Jesus Cristo mais se bateu. Fé, é não discriminar, é estar disposto a servir quem quer que seja, que esteja vulnerável.  Amigos dos amigos não entram na vida  eterna. A salvação é para quem é amigo dos amigos e dos inimigos. Quem oferece banquete só para os “chegados” não se salva. A salvação é para quem mata a fome de pão e de dignidade, de qualquer pessoa, mesmo àquelas por quem não nutre nenhuma simpatia ou afeição, mas pelo fato de ser pessoa, se trata como irmão.

A SEMANA NACIONAL DA VIDA, não tem um fim em si mesma, ela é a expressão de uma Igreja, que põe a pessoa acima de qualquer outra coisa ou bem, a defende e a protege como protege a si e os seus. Essa semana não é da Pastoral Familiar, ela é da Igreja, é de cada católico, cada cristão, de cada cidadão. Não é a vida de uma determinada expressão de fé, que se deve defender, é toda a vida, de todos e de qualquer um.

Defender uma vida é defender o próprio Deus, que se manifesta na imagem e semelhança de cada pessoa. Cada vez que uma vida é ferida em sua dignidade, Deus é atingido igualmente. Daí a razão de João dizer: “se alguém diz,  eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu? (1 João 4,20)”.

E concluímos com a Evangelium Vitae, número 34, “a vida humana é sempre um bem, porque ela é, no mundo, manifestação de Deus, sinal da sua presença, vestígio da sua glória”.

Nesta Semana Nacional da Vida, teremos a grande oportunidade de nossas vidas de experimentarmos de perto e em nós, como é grandioso o dom da vida.