É pão ou é corpo?

“tomai e comei, tomai e bebei”

Hoje, Quinta-Feira Santa, os católicos celebram o maior testemunho de sua fé, a Eucaristia. Uma pessoa normal e de bom senso, distingue muito bem, um pedaço de pão de um corpo humano, e com maior certeza distingue mais ainda um pedaço de pão sem sabor, do Corpo e Sangue de Jesus Cristo de Nazaré, o Filho de Deus, o Salvador.

Muitas vezes, outras crenças nos acusam de idólatras, porque veneramos imagens, mas a coisa mais engraçada é que não nos acusam de loucos, porque não veneramos, mas adoramos e não só, comemos um Pãozinho, sem sabor, a Eucaristia, que a nossa fé nos diz, que é o Corpo e o Sangue do Senhor, morto e ressuscitado.

Naquela fatídica quinta-feira, há dois milênios, em um dos momentos mais emocionantes e tristes da sua vida, Jesus de Nazaré reunidos com os seus, sabendo, que tinha chegado seu fim por aqui, não teve dúvidas, não partiria sem deixar-se aqui para alimentar a fé, a paixão e o amor pelo seu Reino e pela Humanidade. Então toma um simples pão e o transforma em seu corpo, depois toma um copo de vinho e o transforma em seu sangue; e quando o banquete já estava adiantado, faz uma surpresa, que se tornaria na condição, que daria dignidade a quem quisesse continuar participando para sempre daquele banquete, que jamais terminaria. Diante dos olhos incrédulos de seus convivas, seus discípulos e sua Mãe, toma uma bacia com água e numa atitude de servidão lhes lava os pés. Por isso, que não há Eucaristia sem lava-pés.

Após a refeição e o serviço, ele decreta: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”! E aí sim, estava pronto para enfrentar o que seguiria nos dias seguintes: martírio, morte e ressurreição.

Com a partida de Jesus, quem iria continuar oferecendo o seu corpo e sangue para que a Humanidade pudesse continuar vivendo a eterna eucaristia? Seus apóstolos, todos eles, inclusive aqueles, que na sexta-feira da sua morte lhe abandonaram. E por meio deles, chegou até nós esse testemunho de fé, que nos é oferecido pelas mãos de um homem, pecador como nós, o Sacerdote, que não só nos alimenta com a Eucaristia, mas por meio do Sacramento da Penitência, nos religa outra vez com Deus, quando nossas fraquezas e pecados nos conduzem para longe Dele e dos Irmãos.

Então, aquele Pão, cada vez, que o Sacerdote, impõe-lhe as mãos e pronuncia as mesmas palavras de Jesus: “tomai e comei, tomai e bebei”, deixa de ser pão e se transforma em Corpo e Sangue do Senhor. Creio que cada vez, que nos veem comendo o Corpo e Sangue de Cristo, talvez nos considerem loucos, mas é isso, mesmo, somos loucos, amamos um Deus que não faz distinção de pessoas, seguimos um Salvador que se misturava com pecadores e morreu pregado numa cruz, e consideramos todos os humanos nossos irmãos, e não só, devemos ama-los como tais.

Aquele Pão e aquele Vinho, revolucionaram a fé. Não é mais suficiente adorar a Deus em Espírito e Verdade, a adoração só vale para quem comunga, porque só é filho, quem também é irmão, e é a Eucaristia, a Palavra encarnada que nos garante a verdadeira filiação divina.

Nunca como neste Ano de 2020, o Pão que se torna Corpo tem tanto sentido, pois neste ano, por conta da pandemia do Coronavirus, a maioria dos católicos, pela primeira vez em todo mundo, serão privados deste alimento salutar. Os comungantes experimentarão na própria alma, o desejo, que muitos de nossos irmãos que pelos percalços da vida sentem, por não poderem comungar. Nesta Quinta-Feira Santa, quando pela televisão ou por outros meios, assistirmos impotentes a elevação do Corpo e Sangue do Senhor, sem podermos partilha-los, sentiremos no mais profundo de nós, quão grande é a nossa loucura, em nos sentirmos famintos do Corpo e Sangue de um Deus e Senhor, Jesus Cristo, o Libertador.

Certamente, hoje, neste dia memorável, os Sacerdotes, únicos humanos que podem trazer ao altar o Corpo e o Sangue de Cristo Vivo, sentirão quão grande é a sua missão. E na consagração do Pão e do Vinho, ao olharem para suas Igrejas vazias, entenderão, que a Consagração e o Lava-pés fazem parte da mesma ceia, e entenderão que o Sacerdócio não é para si, mas só tem sentindo, quando é vivido para o outro. Quando olharem as suas Igrejas lindas, mas vazias, perceberão também que ministério não é poder e nem glória pessoal, mas é serviço, é vida pela vida do outro.

É  pão ou e corpo? É pão que se transforma em Corpo, e pelo amor, se torna Ressurreição e Salvação.

Eis o Corpo de Cristo, a Palavra que se fez Pão para a salvação da Humanidade. Senhor, bem sabes, que não sou digno de que entres em minha morada, mas diz apenas uma palavra e serei salvo.

Sei  que não te contentas só em dar-me tua Palavra, queres permanecer em mim tornando-Te carne da minha carne e sangue do meu sangue e Te agradeço por isso.

O Corpo e o Sangue de Cristo! AMÉM!