Dom Vicente em Brumadinho e Raquel em Ramá: a dor que não passa!

Dom Vicente, hoje somos todos nós, que lamentamos a perda de tantas vidas, pela estupidez de um mundo que visa lucro acima de qualquer outra coisa.

No repicar do sino que anuncia a celebração do sétimo dia da morte de centenas de pessoas na tragédia de Brumadinho, Dom Vicente, Bispo Auxiliar de Belo Horizonte é o rosto da dor e sofrimento do Povo Mineiro, assolado pelo descaso de gananciosos com a vida humana. Na celebração de ontem (31), unidos aos milhares de Fiéis, Bispos, Sacerdotes e Religiosos, prestaram sua homenagem em forma de celebração aos irmãos e irmãs, que foram tragados pela lama-lixo, que ceifou a vida de quase uma comunidade inteira.

 

Na narração da matança dos inocentes pelo Rei Herodes, o Evangelista Mateus exclama: “Ouviu-se um grito em Ramá, pranto e grande lamentação; é Raquel que chora por seus filhos e recusa ser consolada, pois já não existem” (Mt 2,18). A imagem que vem de Brumadinho traz a mesma dor: “ouve-se um choro de dor, tristeza e indignação, é a Igreja, que chora seus filhos, que já não existem mais”.

As lágrimas de Dom Vicente, são as lágrimas de todos nós, que continuamos acreditando, que um dia a vida será levada mais a sério. Um dia a vida será respeitada, colocada acima de quaisquer outros interesses financeiros e ideológicos.

A Igreja, na pessoa dos seus pastores e fieis não quer mais nenhuma explicação, que não explica, quer que haja compaixão e respeito pelo seu Povo. Dom Vicente, hoje somos todos nós, que lamentamos a perda de tantas vidas, pela estupidez de um mundo que visa lucro acima de qualquer outra coisa. Em Ramá ou em Brumadinho, vidas foram ceifadas pela loucura de ambiciosos pelo poder. Famílias inteiras foram soterradas pela sede desvairada por dinheiro, uma Igreja ferida e sangrando pela falta de escrúpulo e pela imoralidade de um poder que não pode porque não quer.

A tragédia de Ramá não é diferente da tragédia de Brumadinho, a única diferença é que em Ramá os culpados assumiram a sua sordidez, enquanto que em Brumadinho, os responsáveis por tudo o que aconteceu, já desviaram o foco e culparam Deus e a natureza: “foi uma tragédia natural”, como se a barragem tivesse ganhado vida própria e decidido provocar essa ignominiosa tragédia, que deixou muitas pessoas órfãs e muitos pais sem os seus filhos.

As lágrimas de um Bispo, equivalem as lágrimas de Raquel, ambos choram inconsoláveis a perda de seus filhos e filhas, mortos porque não sabiam, que suas vidas eram menos importantes que a sede de poder de reis vaidosos e tão famintos de glórias, verdadeiros egos gigantes.

Que as almas de nossos Irmãos e Irmãs descansem em paz, e que o Senhor conforte os corações de suas famílias e de seus pastores.

Ramá não está tão longe de nós, mas o Senhor, felizmente vive no meio de nós.

Dom Vicente, e a Igreja de Minas Gerais, suas lágrimas, também são as nossas lágrimas.