Sacerdote, Homem, Discípulo e Presbítero

É preciso assumir em primeira pessoa a própria vida.

Desde o dia 18 e até amanhã 21 de abril, está acontecendo na Lagoa da Cruz em Campo Grande, o Encontro Regional de Presbíteros com uma expressiva participação de Sacerdotes de todas as 07 dioceses do Regional, sob a assessoria do Pe. Rafael Solano, do Clero de Londrina PR. O tema que orienta o encontro é a HUMANIZAÇÃO da Vida Sacerdotal, numa perspectiva antropológica. Segundo Pe. Solano, “é hora de humanizar a Igreja, pois a desumanização é a negação da Humanidade plena dos outros e da crueldade e sofrimento que a acompanha”.

A missa de abertura, foi presidida por Dom Antonino Migliori, Bispo de Coxim e Referencial da Pastoral Presbiteral. Estavam presentes também na celebração, Dom Dimas Lara Barbosa, Arcebispo de Campo Grande e Presidente da CNBB Regional Oeste 1 e Dom João Aparecido Bergamasco, Bispo da Diocese de Corumbá, Dom João, está participando de todo o encontro.

Na sua homilia, Dom Antonino refletiu sobre a identidade do sacerdote a partir de três dimensões complementares: o sacerdote homem – o sacerdote discípulo – o sacerdote Presbítero. Segundo Dom Antonino, na interação correta das 3 dimensões, pode nascer o necessário equilíbrio da vida, a desejada unidade.

O sacerdote – homem. 

Homem é um sujeito consciente de si, chamado a viver uma existência de transcendência, que vai além de si mesmo: através do conhecimento (experiência, compreensão dela e juízo sobre ela); através da ação (decisão e ação) e através do amor (sair de si para ir ao encontro do outro), cada ser humano é chamado a ir além de si mesmo, das próprias ideias, dos próprios interesses para entrar em relação sempre mais profunda com o mundo e com os outros.

Tudo isso se realiza através do estudo, da procura apaixonada e sincera da verdade, do amor verdadeiro que é doação de si, do amor a Deus (“nos fizeste para ti, Senhor” – Sto. Agostinho).

O sacerdote – discípulo.

É o homem que, tendo-se encontrado com Jesus e tendo-O acolhido, se converte, isto é, dá à própria vida uma direção nova, seguindo Jesus, como valor supremo. Ele dá à sua vida uma ordem nova, porque coloca no centro, não a si mesmo, nem o mundo com as suas propostas e promessas, mas só Jesus. Acontece o que Paulo fala em Fil. 3, 12-14:

“Fui conquistado por Jesus Cristo, por isso esqueço-me do que fica para trás e avanço para o que está na frente. Lanço-me em direção à meta, em vista do prêmio do alto, que Deus nos chama a receber em Jesus Cristo”.

O sacerdote Presbítero.

É um discípulo chamado por Jesus para viver o seguimento e ajudar os homens a se encontrar com Jesus (proclamando a Palavra, celebrando os sacramentos e vivendo a comunhão). É a imposição das mãos do Bispo e a invocação do Espírito Santo o que torna Presbítero.

A Ordenação é o sinal sacramental que manifesta e realiza uma especial conformação a Cristo, através da continuidade com a experiência daqueles que, antes de nós, o encontraram. Um presbítero, como Paulo, pode dizer: “Vos suplicamos, em nome de Cristo” (2 Cor,5,20).

Em nome de Cristo! O anúncio vem de Jesus, mas alcança as pessoas, através da mediação de alguém enviado por Ele.

O Presbítero é, de fato, um escolhido e um enviado.

Pessoas humanas autênticas.

As três dimensões – homem, discípulo, presbítero – enfocam características diferentes do mesmo sujeito e, por isso, não podem ser separadas, cada uma se enraíza sobre outra e a leva à perfeição.

O discípulo realiza o dinamismo da vida humana, mas a partir do encontro com Jesus. O presbítero vive o discipulado como todo cristão, mas através de uma maneira concreta de seguir Jesus, que consiste em servir os discípulos (anunciando a Palavra, celebrando os sacramentos, ajudando todos a estar na comunhão da única Igreja). Não pode ser autêntico discípulo quem não vive corretamente como pessoa humana. Assim não é possível ser autêntico presbítero, sem ter experimentado a conversão própria do discípulo e sem viver uma relação de amizade com Jesus. O ministério se tornaria uma profissão qualquer.

Por isso, Jesus pergunta a Pedro se o ama e, só depois dá a tarefa de apascentar o rebanho.

Autenticidade não significa espontaneidade, isto é, a manifestação imediata – sem controle- de sentimentos, impulsos, desejos.

Autenticidade é atitude consciente de vida, que responde plenamente à vocação de:

  • Conhecer com verdade, que significa estar atentos, inteligentes e não superficiais.
  • Agir segundo o bem, e não segundo o capricho momentâneo ou interesse egoísta.
  • Amar na maneira concreta, isto é, Deus sobre todas as coisas e o próximo como nós mesmos.

Concretamente, como ser Pessoas Humanas autênticas?

   Os obstáculos no caminho da maturidade humana do presbítero são os mesmos que encontra todo homem de hoje.

Autenticidade é uma meta difícil, que não se alcança uma vez por todas, que cada situação nova questiona e, por isso, deve ser continuamente procurada com coragem e perseverança.

Podemos apresentar alguns aspectos desta autenticidade:

  1. Abertos à realidade.

Disponíveis a conhecer e aceitar a realidade assim como se apresenta, atentos a não julgar de maneira apressada ou interessada.

Temos que aprender uma maneira de encontrar a realidade, que supere interesses, prejulgamentos, preferencias, arrogância.

  1. Sentimentos e emoções.

Aprender a conhecer, reconhecer e gerenciar sentimentos e emoções.

Precisa aprender a “dar um nome” a todos os movimentos interiores que constituem um precioso patrimônio de energias, mas que devem ser integrados positivamente na unidade da pessoa.

Quando a aceitação de si é cordial, é mais fácil a empatia, isto é, a capacidade de compreender os outros. E esta empatia é muito importante para um presbítero, chamado a escutar, compreender, ter compaixão, ser solidário e colaborar.

Uma atitude muito frequente é o narcisismo: ver só a si mesmo, as próprias ideias, a própria imagem. Ser plenamente humano significa controlar os medos e os desejos para dar espaço aos outros e às experiências deles.

  1. Encontrar as pessoas.

Todas as pessoas: crianças, jovens, adultos, idosos, doentes.

Cada encontro humano contém uma riqueza enorme.

Nós, presbíteros, encontramos as pessoas nos momentos mais delicados da vida: nascimento, matrimônio, doença, decepção, morte de entes queridos…. Precisamos ser ricos em humanidade, para encontrar as pessoas como fazia Jesus, ajudando-as a voltar à vida diferentes.

  1. Conseguir ficar sozinhos.

Não é isolamento. É importante para o equilíbrio pessoal do presbítero, que ele saiba estar no meio de todos, mas também que viva momentos de solidão, de silêncio, de estar a sós consigo mesmo e com Aquele que o chamou a ser seu ministro.

  1. Diante do consumismo.

Uma concepção consumista da vida não é compatível com a vocação do presbítero. O celibato, a obediência o uso dos bens exige “andar contra a corrente”

Os desejos são realidades produzidas por nós. Estes bloqueiam a pessoa na satisfação pessoal, não ajudam a melhorar o mundo.

A existência do presbítero é uma existência de serviço, de doação.

Diante das coisas, a atitude certa é servir-se delas e n~]ao servir a elas.

Os desejos, nem todos são egocêntricos.

Em tudo, tem que ter claras as prioridades e o próprio projeto de vida.

  1. Consciência dos limites.

Pessoas perfeita e definitivamente maduras não existem.

Existem só pessoas suficientemente maduras e desta maturidade faz parte a consciência dos limites, o reconhecimento sincero dos próprios erros e o compromisso sereno para superá-los, com a graça de Deus.

O nosso esforço cotidiano será de lutar para sermos pessoas humanas autenticas.

Dom Antonino concluiu a sua fala reafirmando que o trabalho de amadurecimento na autenticidade é um trabalho de cada presbítero, como de cada pessoa e não pode ser delegado para ninguém.

Nem adianta, olhando para trás, responsabilizar os formadores, as estruturas ou as linhas de atuação pastoral ou não sei o que mais!

Uma atitude deste tipo não ajuda o crescimento, é preciso assumir em primeira pessoa a própria vida.