“Quem disse que seria fácil”!

Essa afirmação popular hoje fala muito  alto. São tantas as lutas para fazer acontecer as coisas bonitas. Fizemos uma escutatória em nosso Regional sobre a vivência da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021, em todas as Dioceses estão acontecendo momentos muito fortes de celebrações e escuta da Palavra de Deus a partir da proposta FRATERNIDADE E DIÁLOGO: um compromisso de amor.

A impressão que dá, é que nunca como hoje as pessoas estão sedentas buscando uma alternativa para dialogar, que não sejam só as provocações das mídias sociais, mas sim, propostas de reflexões, que arrefeçam o clima tenso que vivemos, provocado por tantas notícias tristes, principalmente aquelas que nos dão conta de mortes sem conta de pessoas distantes de nós, mas também muitas delas de nossos entes queridos.

Vivemos hoje em nossa sociedade uma experiência de distanciamento social, e provamos, que não fomos feitos para isso. Somos afetivos, presentes, gostamos de estarmos próximos, e a CFE veio trazer essa proximidade. Mesmo com tantos gritos de dor, a nossa fé, nos aproxima de tal modo, que percebemos, que não estamos sós, existe uma multidão de irmãos e irmãs  que caminham na mesma direção que nós, que é só questão de ajustarmos os nossos passos para que possamos caminhar juntos.

Para quem quer ver, a CFE que traz como lema um dos versículos mais bonitos da Sagrada Escritura: “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade”  (Ef. 2.14), é um momento da ternura de Deus, que se revelou na pessoa de Jesus Cristo, que no momento de sua despedida física de seus discípulos, reza instantemente ao Pai “não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela tua palavra hão de crer em mim; para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste (Jo 17,20-21). É esta a profecia da CFE deste ano. Que a gente respeite as diferenças, acolha o jeito do outro ser, e exija também, que sejamos respeitados em nossa fé.

A gente se reúne com tanta gente para outras ações, por que não nos reunirmos para reler a história, o momento atual tão difícil, à luz da Palavra de Deus? O que nos divide, não é o zelo pela Palavra, mas o orgulho (que gera em nós complexos), o desejo de poder, que bani da convivência a fraternidade, e principalmente uma doutrina lida e interpretada à nossa imagem e semelhança, elementos estes que nem sempre atestam a nosso favor, quando se trata da verdadeira vivência da fé.

O Cristo que daquilo que era dividido, fez uma unidade, ainda hoje é o mesmo de ontem, e será para sempre (Hb 13,8). Então não dá para amá-lo sem amar o outro. Se não somos capazes de dialogar com o diferente, acabaremos por assassinar Jesus Cristo outra vez. Porque desprezar, marginalizar, ferir o outro seja com palavras ou fisicamente, é assassinar Jesus, é repetirmos a mesma covardia, que imputamos há tanto tempo aos Sumos Sacerdotes, a Herodes e a Pilatos. Quando conscientemente rejeito os ensinamentos da Igreja,  na qual deveria  viver a minha fé, só para sustentar o meu orgulho ferido, ou não dar o braço a torcer, admitir que as minhas escolhas foram erradas, eu repito o mesmo gesto da multidão, que diante das evidências, rejeitaram Jesus, o Filho de Deus, que já havia dado tantas provas disso e escolheu Barrabás, que destilava ódio, vingança e desejo de poder.

Um dos objetivos da CFE é “redescobrir a força e a beleza do diálogo como caminho de relações mais amorosas”, ou seja, buscar alternativas para que a pessoas se humanizem sempre mais, e a humanização das relações é sem dúvida o antidoto para o clima de violência e discriminação que se instalou no meio de nós cristãos, que nos sentimos no direito de atacar a todos à torto e à direito, as pessoas, que optaram em sentirem, pensarem e viverem diferentes de nós. Não reza na minha igreja e não defende os meus princípios já as declaro inimigas.

Como pode alguém que despreza, agride e discrimina outra pessoa, se achar no direito de defender a vida em apenas um viés? A CFE 2021, vem nos dizer, que a vida, qualquer vida, deve ser preservada, respeitada e cuidada. Não é somente a vida de um embrião/feto, mas toda a vida, desde a sua concepção até o seu declínio. Não se categoriza vida. não se decide quem deve viver ou deve morrer. Qualquer pessoa, seja ela quem for, deve ter sua dignidade preservada. A CFE quer “estimular o diálogo e a convivência fraterna como experiências humanas irrenunciáveis, em meio a crenças, ideologias e concepções, em um mundo cada vez mais plural”. O plural é uma grande riqueza. Pensamento único é miserável, estéril e homicida. Todas as grandes tragédias da Humanidade, começaram na cabeça de pessoas, que achavam, que somente elas tinham razão, e isso, como a História narra e como muitos de nós já tiveram a oportunidade de experimentar na pele, gerou morte e destruição.

Quando assumimos a CFE 2021, sabíamos que não seria fácil, assim como as outras CFs sempre foram combatidas, com esta não seria diferente, mas também estamos certos de que buscar o Reino de Deus  nunca foi fácil. Quando a Igreja não entra em rota de colisão com a injustiça, a fome e a miséria, não assusta mais aos aproveitadores do povo, ela deixa perdido, o seu profetismo. É graças à consciência profética da nossa Igreja, que podemos seguir adiante, sorvendo a profecia da CFE em cada canto desta Nação, nos mais singelos lares do Oiapoque ao Chuí, embalados pela letra tão significativa e tão evangelizadora do Hino que diz: “Em nome de Cristo, que é a nossa paz! Em nome de Cristo, que a vida nos traz, do que estava dividido, unidade ele faz!

E porque sabemos que a luta pelo Reino nunca foi fácil, seguimos de coração pleno de acolhida a todos, também daqueles irmãos que ainda não conseguem ver quão maravilhoso é caminhar juntos. Por isso que a Campanha é da Fraternidade, para continuar sonhando, que no final de tudo, a gente será um só rebanho e um só Pastor (Jo 10,14-16).