O amor chama para amar!
Homilia de Dom Antonino na ordenação de dois novos sacerdotes
Queridos irmãos e irmãs em Cristo,
Pela terceira vez, com a Graça de Deus, nos reunimos nesta Matriz para uma Ordenação Presbiteral: 2005 Pe. João Batista – 2007 Pe. Fabricio e agora, com dois filhos desta cidade: Ivanildo e Marivaldo.
Agradeçamos a bondade que o Senhor tem com a nossa – como a chamou Dom Lucas na minha Ordenação episcopal – “pobre, necessitada, difícil e bela Igreja de Coxim”, situada “no longínquo, desconhecido e fascinante Mato Grosso do Sul”. Nestes 22 anos do 3º milênio pudemos experimentar muitas vezes esta bondade do Senhor. Por isso, a nossa solene Ação de Graças!
Hoje, celebramos esta Ordenação na festa das duas colunas da Igreja: Pedro e Paulo. Duas pessoas completamente diferentes, como origem, como formação e cultura, como experiência de vida. Pedro pescador – Paulo homem de estudo, discípulo do famoso Gamaliel. “Pedro, o primeiro a proclamar a fé, fundou a Igreja primitiva sobre a herança de Israel. Paulo anunciou a vossa doutrina manifestando às nações o Evangelho da salvação. Ambos, por meios diferentes, reuniram a família de Cristo e, unidos pela coroa do martírio, recebem por toda a terra igual veneração” (Prefácio).
Disso, entendemos que Deus chama quem quiser, sem olhar as aparências dos homens. Foi assim na escolha de Davi, foi assim na escolha dos Apóstolos, foi assim na escolha de vocês, queridos Ivanildo e Marivaldo. E também foi assim na nossa escolha, queridos irmãos presbíteros. Nos perguntamos: porque Deus nos escolheu? O que viu em nós? Somos melhores que os outros? Não é verdade. Então, porque fomos escolhidos? Foi puro amor! Este pensamento deveria encher o nosso coração de alegria e de desejo de responder à altura. Amor chama amor. “Simão de João, tu me amas mais que os outros? Apascenta as minhas ovelhas”. O nosso amor não pode ser como aquele do Discípulo. Deve ser maior, porque maior é a nossa responsabilidade.
Neste momento, convido a mim mesmo e a todos vocês que foram chamados ao ministério sacerdotal ou se preparam a acolher este dom, a responder: como é a minha resposta ao amor de Deus por mim? O amor é como fogo: pode ser vivo ou meio apagado ou reduzido a cinza. E o meu como é? Esta pergunta parte do meu coração de pai, que gerou vocês ao sacerdócio, acompanhou por vários anos e, daqui a pouco, vai se separar de vocês. Jesus me perdoe se tenho a ousadia de falar como ele falou: “Quando estava com eles, eu os guardava em teu nome. Eu os guardei e nenhum se perdeu…Rogo que os guardes do maligno…. Consagra-os na verdade” (Jo.17.12,17).
A minha oração, daqui em diante, será sempre mais constante para que a vossa resposta ao amor d´Aquele que vos escolheu seja profunda e vos torne felizes, sem precisar procurar em outras realidades desta terra a vossa realização.
Lembrem o que na Ordenação de 2007, aqui, eu disse: “Só Jesus é joia, o resto é bijuteria”. A bijuteria dura pouco, a joia é eterna. Esta Ordenação acontece logo depois do nosso 1º Congresso Eucarístico Diocesano. Isso não nos diz nada? Eucaristia, sacramento da unidade. Refletimos bastante, nós padres falamos aos fiéis, experimentamos a beleza da unidade na celebração. Só isso? Será que o Congresso foi um parêntesis na nossa caminhada de 44 anos? Não pode ser assim. O nosso compromisso concreto vai realizar tudo que pedimos na Oração do Congresso?
E as primeiras testemunhas da unidade não devemos ser nós, ministros ordenados, escolhidos a serviço da comunidade, para caminhar e ajudar a caminhar rumo à terra Prometida? Tem uma piada de mal gosto, que fala: “Quando estaremos diante de São Pedro, estaremos reunidos. Mas seremos unidos?”. Depende de nós, agora no tempo que Deus nos dá para a nossa salvação. A unidade é em vista do mundo: “para que o mundo creia”. Terrível seria se o mundo fosse salvo e nós, lançados fora! É a nossa responsabilidade. Como disse na Homilia do Congresso, a unidade seja realizada na oração, no trabalho pastoral, na economia, enfim, na vida.
No Evangelho de hoje, Jesus disse a Pedro: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno nunca prevalecerão contra ela”. Pedro hoje é o Papa, Papa Francisco. Ele nos confirma na fé, é sinal de unidade para toda a Igreja, estímulo de contínua renovação para a evangelização. Como entre Pedro e Paulo tinha diferenças, assim entre os Pontífices têm diferenças: de formação, de atuação pastoral, de opiniões. Isso não pode constituir escândalo. Agora, o fenômeno que está acontecendo é que todos se acham autorizados a julgar e, pior, a condenar. Fazer comparações entre os vários Papas não é atitude eclesial, de gente que ama a Igreja. Todos deram o melhor de si, todos serviram a Igreja. Pior de tudo é, além de criticar, não aceitar o ensinamento e criar grupos de oposição. Aqui entra o discurso da unidade.
O que devemos fazer? Obedecer e amar. Na minha vida já conheci 7 papas, 3 como bispo. Todos grandes, 3 já declarados santos, um beato no dia 04 de setembro. O nosso papa é aquele que a Providência nos dá no dia a dia. Agora é o Papa Francisco. O que ele está fazendo? Está obedecendo às indicações do último Conclave. Concretamente, quer dar o devido valor ao Concílio Vaticano II. No caminho bimilenar da Igreja, este Concílio marca uma etapa importante. São Paulo VI o dizia tão importante quanto o Concílio de Nicéia. E o teólogo Luigi Sartori o comparava ao Concílio de Jerusalém. Isso significa que “está em jogo a identidade e a missão do evento ´Jesus Cristo´, presente na Igreja, para a salvação do mundo”. A reforma da Igreja, apresentada por papa Francisco se realiza em 4 palavras:
- Primado do “remédio da misericórdia”.
- A Igreja é uma pirâmide, mas de ponta a cabeça; o vértice se encontra debaixo da base; única autoridade é aquela de Jesus. Palavras de ordem: serviço e escuta.
- Igreja pobre e dos pobres.
- Diálogo (Paulo VI) – cultura do encontro.
Estas palavras convidam a um exame de consciência e a um salto de qualidade. “A reforma da Igreja – falou Papa Francisco em Florença – não se esgota no enésimo plano para mudar as estruturas. Significa engajar-se e enraizar-se em Cristo, deixando-se conduzir pelo Espírito. Então, tudo será possível com gênio e criatividade”. E, nós…. queremos ficar de fora deste momento de Graça, que a Igreja está vivendo?
Na Homilia deste último 29 de junho, Papa Francisco nos convida a fazer-nos duas perguntas:
1) O que posso fazer eu pela Igreja? Ele mesmo responde: “não me lamentar da Igreja, mas empenhar-me em prol da Igreja. Participar com paixão e humildade”.
2) Que podemos fazer juntos, como Igreja, para tornar o mundo mais humano, mais justo, mais solidário mais aberto a Deus e à fraternidade entre os homens?”
Queridos Ivanildo e Marivaldo, vocês estão sendo ordenados agora, com este Papa, com este Bispo, nesta Igreja (santa e pecadora). Qual será a resposta à escolha que Jesus fez de vocês? Vão ser capazes de caminhar na unidade com o clero e o povo de Deus desta porção da Igreja, que se chama Igreja de Coxim? Vão obedecer e amar o Papa, qualquer que seja o seu nome? Só assim a vossa presença neste presbitério será uma graça para toda a comunidade. Isso desejamos todos nós e por isso rezamos. Amém.