Pastorais Sociais

O que é pastoral social

Entendemos por Pastoral Social, no singular, a solicitude de toda a Igreja para com as questões sociais. Trata-se de uma sensibilidade que deve estar presente em cada diocese, paróquia comunidade; em cada dimensão, setor e pastoral; na catequese, na liturgia e nas iniciativas ecumênicas; enfim, deve estar presente nas  comunidades eclesiais de base, nos movimentos… Em outras palavras, deve ser preocupação inerente a toda ação evangelizadora. Pastorais Sociais, no plural, são serviços específicos a categorias de pessoas e/ou situações também específicas da realidade social. Constituem ações voltadas concretamente para os diferentes grupos ou diferentes facetas da exclusão social, tais como, por exemplo, a realidade do campo, da rua, do mundo do trabalho, da mobilidade humana, e assim por diante.

O Setor Pastoral Social, por sua vez, integrado na dimensão sociotransformadora, linha 6 da CNBB, tem duplo caráter: por um lado, representa uma referência para toda a ação social da Igreja, em termos de assessoria, elaboração de subsídios e reflexão teórica. Por outro lado, é um espaço de articulação das Pastorais Sociais e Organismos que desenvolvem ações específicas no campo sócio-político. Dentro da dimensão sociotransformadora, é função da Pastoral Social procurar respostas para esse tipo de situação. Isto significa que as respostas não estão prontas. Não há receitas acabadas. Em cada momento e em cada local, é preciso iniciar um processo em que o maior número de pessoas se envolva na busca de soluções concretas. A partir da conscientização, da organização e da mobilização, abrem-se caminhos alternativos. O importante é chamar a atenção da Igreja e da sociedade para esse quadro de injustiças cada vez mais grave. Importante também, como veremos adiante, envolver o maior número de atores sociais e de parceiros na luta pela transformação social. A Pastoral Social tem como finalidade concretizar em ações sociais e específicas a solicitude da Igreja diante de situações reais de marginalização.

No momento, queremos alertar para a tarefa de identificar, entre os filhos e filhas de Deus, os rostos mais sofridos, com vistas a dedicar-lhes uma solicitude pastoral específica. Os textos bíblicos destacam em suas páginas alguns rostos que têm a predileção do amor de Deus. No Antigo Testamento sobressaem “o órfão, a viúva e o estrangeiro”. No livro do Êxodo, Deus “vê, ouve e sente” o clamor dos oprimidos escravizados no Egito (Ex 3,7-10). Os profetas não se cansam de chamar a atenção sobre o direito e a justiça para com os pobres. Nos Evangelhos, novos rostos desfilam diante de nós. Frequentes vezes Jesus enumera uma lista em que descreve aqueles que se encontram mais perto do carinho do Pai. Exemplos: o texto do juízo final, em Mt 25, 31ss; as bem-aventuranças, em Mt 5, 1-12; o programa de Jesus, em Lc 4,16-20 o episódio do Bom Samaritano, em Lc 10,25-35. Por outro lado, os doentes, as mulheres marginalizadas, os pequenos e fracos, as crianças, enfim, uma multidão de gente ferida disputa espaço aos pés do Mestre. Os Atos dos Apóstolos, as Cartas e o Apocalipse revelam igualmente a atenção das primeiras comunidades para com os pobres. Desde cedo, os cristãos se organizam para suprir as necessidades básicas de seus irmãos. Como mostra São Pedro em sua primeira carta, as comunidades eram “uma casa para quem não tinha lar”. Uma rápida olhada pelos escritos dos Santos Padres dos primeiros séculos da era cristã e pelos documentos da Doutrina Social da Igreja nos revelará, por sua vez, uma preocupação constante com os setores mais pobres da sociedade.   No   Documento de Puebla os bispos enumeram uma série de feições marcadas pelo sofrimento de séculos. Rostos caros à Pastoral Social no seu conjunto. São rostos anônimos, os quais, em função do trabalho pastoral, vão recuperando o nome e a história na medida em que são assumidos com amor, pois o amor, diante de um ser humano à margem da vida, é capaz de fazer alguém capaz também de amar e viver!

Neste sentido, a Pastoral social procura integrar em suas atividades a fé e o compromisso social, a oração e a ação, a religião e a prática do dia a dia, a ética e a política. Aqui é preciso superar as dicotomias entre “os que só rezam” e “os que só lutam”, “os que louvam e celebram” e “os que fazem política”. Na verdade, a verdadeira fé desdobra-se naturalmente em compromisso diante dos pobres. A ação social é condição indispensável da vivência cristã. O compromisso sócio-político não é um apêndice da fé. Ao contrário, faz parte inerente de suas exigências. A fé cristã tem, necessariamente, uma dimensão social. Não é isso o que nos ensina o episódio do Bom Samaritano? Ou seja, entrar ou não entrar na vida eterna é uma alternativa que está condicionada à atitude frente ao irmão caído e ferido na beira da estrada. Tal condição se torna ainda mais clara no texto do Juízo Final: “Vinde benditos de meu Pai, porque estava com fome e me deste de comer…”. Evidente que a Pastoral Social não tem o monopólio da transformação social e da busca de alternativas. Outras pastorais e dimensões da Igreja também trabalham na mesma direção. Mas, no caso da Pastoral Social, essa é sua missão específica, intransferível. É a razão de sua existência. Constitui sua identidade. Vale sublinhar, ainda, que sequer a Igreja detém semelhante monopólio. Outras Igrejas, cristãs ou não, preocupam-se pela transformação das estruturas injustas da sociedade. Isso se pode dizer de inúmeras e variadas instituições civis, entidades, movimentos sociais, organizações de base, associações, pessoas, enfim, milhares de iniciativas em curso. O Reino de Deus, como sabemos, ultrapassa as fronteiras da Igreja e exige fé e pé na caminhada.

Em correspondência com as quatro exigências evangélicas da ação da Igreja no Brasil, quatro palavras chaves poderiam resumir o Objetivo Geral da Pastoral Social. Trata-se de proclamar a Boa Nova do Evangelho entre os mais pobres, através de uma presença, de um alerta, de uma ação social e de uma articulação-parceria. Na contramão das estruturas sociais injustas, o povo se mobiliza. Movimentos sociais, pastorais, organizações de base, entidades, ONG’s, associações populares são, entre outros, protagonistas de um novo tempo. Diferentes atores que procuram, em parceria, abrir caminhos alternativos para o país. Contribuem também com a construção conjunta de uma nova ordem mundial, alicerçada em fundamentos éticos. É a luta dos peixes na piracema, lutando contra a corrente. Somente serão capazes de gerar vida nova se forem capazes de navegar rio acima. Caso contrário, a corrente os arrastará para o oceano como corpos inertes e estéreis. O trabalho pastoral junto aos pobres e excluídos requer uma verdadeira espiritualidade de piracema.

A Pastoral Social integra, junto com outros setores, a dimensão sociotransformadora da ação evangelizadora da Igreja no Brasil. A partir da expressão acima, entende-se que o Objetivo Geral dessa dimensão seja “contribuir, à luz da Palavra de Deus e da Diretrizes  para a transformação dos corações e das estruturas da sociedade em que vivemos, em vista da construção de uma nova sociedade, o Reino de Deus”. A Pastoral Social, por sua vez, tem como objetivo desenvolver atividades concretas que viabilizem essa transformação em situações específicas, tais como o mundo do trabalho, a realidade das ruas, o campo da mobilidade humana, os presídios, as situações de marginalização da mulher, dos trabalhadores rurais, dos pescadores, e assim por diante.

Parte-se do pressuposto de que nossa sociedade assenta-se sobre estruturas injustas e pecaminosas, como nos alertam os documentos do episcopado latino-americano nas assembleias de Medellín (1968), Puebla (1979) e Santo Domingo (1992), referindo-se à violência institucionalizada e a outras expressões de igual teor. Daí a necessidade de trabalhar por sua transformação e, por outro lado, buscar alternativas na construção de uma sociedade justa, solidária e fraterna. Neste sentido, a Pastoral social procura integrar em suas atividades a fé e o compromisso social, a oração e a ação, a religião e a prática do dia a dia, a ética e a política. Aqui é preciso superar as dicotomias entre “os que só rezam” e “os que só lutam”, “os que louvam e celebram” e “os que fazem política”. Na verdade, a verdadeira fé desdobra-se naturalmente em compromisso diante dos pobres. A ação social é condição indispensável da vivência cristã. O compromisso sócio-político não é um apêndice da fé. Ao contrário, faz parte inerente de suas exigências. A fé cristã tem, necessariamente, uma dimensão social. Não é isso o que nos ensina o episódio do Bom Samaritano? Ou seja, entrar ou não entrar na vida eterna é uma alternativa que está condicionada à atitude frente ao irmão caído e ferido na beira da estrada. Tal condição se torna ainda mais clara no texto do Juízo Final: “Vinde benditos de meu Pai, porque estava com fome e me deste de comer…”. Evidente que a Pastoral Social não tem o monopólio da transformação social e da busca de alternativas. Outras pastorais e dimensões da Igreja também trabalham na mesma direção. Mas, no caso da Pastoral Social, essa é sua missão específica, intransferível. É a razão de sua existência. Constitui sua identidade. Vale sublinhar, ainda, que sequer a Igreja detém semelhante monopólio.

Outras Igrejas, cristãs ou não, preocupam-se pela transformação das estruturas injustas da sociedade. Isso se pode dizer de inúmeras e variadas instituições civis, entidades, movimentos sociais, organizações de base, associações, pessoas, enfim, milhares de iniciativas em curso. O Reino de Deus, como sabemos, ultrapassa as fronteiras da Igreja e exige fé e pé na caminhada. Em correspondência com as quatro exigências evangélicas da ação da Igreja no Brasil, quatro palavras chaves poderiam resumir o Objetivo Geral da Pastoral Social. Trata-se de proclamar a Boa Nova do Evangelho entre os mais pobres, através de uma presença, de um alerta, de uma ação social e de uma articulação-parceria:

  1. Uma presença (testemunho) junto aos setores mais marginalizados da população, aos porões da sociedade, aos “infernos” do sofrimento humano;
  2. Um alerta (denúncia e anúncio) à Igreja e à sociedade civil sobre a existência desses submundos, alerta que é uma espécie de antena permanentemente sintonizada com o clamor dos oprimidos;
  3. Uma ação social (serviço) que multiplica atividades de conscientização, organização e transformação, as quais levam à conversão pessoal, por um lado, e a mudanças concretas de ordem social, econômica e política, por outro;
  4. Uma articulação-parceria (diálogo) com as demais igrejas, cristãs e não cristãs, e com as forças vivas que contribuem para transformar a sociedade em que vivemos.

Estrutura

Atualmente a estrutura da CNBB organiza-se em 10 Comissões Episcopais de Pastoral. As Pastorais Sociais situam-se na Comissão para o Serviço da Caridade da Justiça e da Paz e tem no serviço a sua exigência evangelizadora predominante. Em nível nacional, esta Comissão reúne sob sua articulação catorze Pastorais e quatro Organismos.

As Pastorais são as seguintes:

Pastoral Operária, Pastoral do Povo de Rua, Conselho Pastoral dos Pescadores, Pastoral dos Nômades, Pastoral da Mulher Marginalizada, Pastoral do Menor, Pastoral da Saúde, Serviço Pastoral dos Migrantes, Pastoral Afro-brasileira, Pastoral Carcerária, Comissão Pastoral da Terra, Pastoral da Sobriedade, Pastoral da Pessoa Idosa e Setor da Pastoral da Mobilidade Humana.

Os organismos são:

Cáritas Brasileira, IBRADES (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Social), CERIS (Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais), Pastoral da Criança e CBJP (Comissão Brasileira de Justiça e Paz).

Passos para organizar uma Pastoral Social

Para cada face da exclusão existe uma pastoral social específica. E se não existe, é interessante criar um serviço de presença evangélica e de atuação pastoral, que, com o tempo, pode vir a se tornar uma nova pastoral social.

  1. O ponto de partida de qualquer ação é uma tomada de consciência da realidade local, com atenção especial para os grupos que mais sofrem o peso da exclusão.

Esta conscientização da realidade pode ser feita através de visitas pastorais, de pesquisas e levantamentos ou de um trabalho científico, com assessoria de organismos apropriados, como já acontece, em muitas comunidades, por ocasião da Campanha da Fraternidade.

  1. Criação de uma equipe de base que acompanhe de perto essa situação específica ou categoria de pessoas marginalizadas. Essa equipe, como sugere o nome, é responsável pelo trabalho de base, de visita. Marca presença nos lugares onde são identificados tais rostos.
  2. A partir dessa presença e acompanhamento, o terceiro passo é desenvolver atividades de apoio e solidariedade aos movimentos sociais e à luta por melhores condições de vida e trabalho, o que significa uma ação lenta e persistente de conscientização, organização e mobilização.
  3. As diversas equipes de base das pastorais específicas devem promover encontros conjuntos da Pastoral Social, reunindo-se com certa frequência, seja em nível comunitário e paroquial, seja em nível diocesano e regional. Tais encontros servem para trocar experiências, traçar metas comuns e planejar atividades gerais.
  4. O quinto passo diz respeito à integração entre as pastorais. Neste caso é necessário escolher lideranças e agentes que possam encontrar-se nos diversos níveis para coordenar as ações conjuntas. Lembramos ainda a articulação com as Pastorais Sociais da CNBB.