Os Profetas não morrem, se eternizam no chão onde derramam seu sangue.

Há exatos 42 anos, em no dia 24 de março, a Humanidade ganhava definitivamente mais um Profeta Santo, Óscar Arnulfo Romero Galdámez, ou simplesmente Santo Óscar Romero, assassinado durante a celebração da Santa Missa, misturando assim, o seu sangue com aquele de Cristo, que pela violência do impacto do projetil, se espalhou pelo chão, o mesmo chão, que já recebeu o sangue de tantas irmãs e irmãos, que por conta da sua fé jamais se calaram.

Não é preciso assassinar, mas a morte violenta é um modo de amedrontar, intimidar e desmobilizar, felizmente as mulheres e homens de fé, não se deixam sucumbir pela violência, quando estão em jogo a vida de pequenos e marginalizados.

Santo Óscar Romero sabia que sua fé iria lhe custar a vida, porque assumiu o compromisso com outras vidas, aquelas sem voz e sem vez, espezinhadas pela brutalidade da ganância e da injustiça institucionaliza e não raro, abençoada pela própria Igreja de quem ele se tinha tornado sacerdote e bispo, retirado do meio do seu Povo e devolvido a favor do seu Povo.

A sua consciência de batizado e de ministro ordenado em favor do Povo, não lhe permitia acomodar-se tranquilo em um “pequeno reino” chamado presbitério, enquanto as pessoas às quais tinha sido enviado eram selvagemente atacadas e mortas só por quererem uma vida com mais dignidade, um futuro com mais esperança.

As suas vestes pretas (batina), mais que um escudo para se esconder, tornaram-se uma referência de denúncia dos “poderosos” e de proximidade aos mais pobres. Era para ser padre e bispo de todos, mas o Evangelho, que pregava todos os dias, o tornou a voz dos sem voz e a vez dos sem vez. Sua voz se fez ecoar por El Salvador e pelo mundo. Diante das dores e sofrimentos de seus irmãos ele gritou como gritam os profetas em todos os tempos: “Nenhum soldado está obrigado a obedecer a uma ordem contrária à lei de Deus que diz: “Não Matar.” Uma lei imoral não deve ser cumprida por ninguém. Soldados, em nome de Deus e no nome deste povo sofrido, cujos clamores sobem até ao céu cada dia mais tumultuosos, lhes suplico, lhes rogo, lhes ordeno em nome de Deus: cessem a repressão.”

No dia em que recordamos a sua Páscoa eterna, o clamor deste Profeta, precisa continuar ecoando por todo o mundo, de maneira particular em nosso Regional, Mato Grosso do Sul tão marcado por derramamento de sangue, principalmente de SANGUE INDÍGENA. A voz deste grande profeta ressoe em nossos corações para que entendamos, que todo ser humano é criatura muito amada do Deus, a quem revolvemos nossos infindáveis atos de louvores, nossas novenas, nossas devoções. As mulheres e homens privados de liberdade, antes de serem criminosos, são filhos amados de Deus e por consequência, aceitemos ou não são os nossos irmãos.

No dia em que recordamos a morte deste grande Santo Profeta, recordamos, que ele não chegou aos altares só porque foi um homem de fé, mas além disso, ele chegou aos altares pelas suas ações e atitudes em favor dos mais abandonados, aqueles que perambulam pelas ruas da vida, envoltos em pobreza e solidão. Foi a sua ternura pelos abandonados, que o levaram até a glória dos santos e santas de Deus. E só, tão somente só, as ações de amor, podem conduzir alguém a tão alta honraria.

Ninguém conquista o céu construindo belos muros ou porque segue o rigor observante de uma liturgia, ou ainda porque comunga todos os dias, mas para fazer parte do Céu, é preciso ser Profeta da caridade, da acolhida, do encontro. Não são as festas daqueles que podem nos retribuírem, que nos salvarão, o que há de nos salvar, será a nossa presença na vida de quem nem se quer se digna levantar a cabeça para olhar em nossos olhos.

Santo Óscar Romero, sabemos, que não tiveste visões de Nossa Senhora e que em nenhum momento alguma voz do céu lhe disse coisas especiais, o que sabemos é que o grito dos pobres desvalidos lhe despertou para a defesa da vida, de todas as vidas, para que possam viver com a dignidade de filhos.

Profeta da América, Mártir da Igreja, interceda por nós, faça com que a força do teu sangue, que lavou nossa Terra, nos liberte da maldade dos poderosos, para que como tu, jamais nos calemos diante da dor e da morte de qualquer irmã ou irmão.

Santo Óscar Romero, rogai por nós.