Bispo Referencial para o Clero envia carta por ocasião do encontro que não vai acontecer
Tem tanta gente que está sofrendo, tantos perderam a vida, outros o emprego. Para nós está faltando algo na nossa mesa, na nossa conta bancária, na nossa casa?
Há muitos anos, neste período, pós Domingo de Páscoa ocorre sempre o Encontro Regional de Presbíteros. Infelizmente este já é o segundo ano, em que o encontro não acontece, devido à pandemia que estamos vivendo e que nos obrigou a repensarmos tudo que estávamos fazendo até agora.
Diante desta realidade, Dom Antonino Migliore, Bispo de Coxim e Referencial para o Clero, enviou uma Carta aos Sacerdotes na qual propõe uma serie se reflexões sobre a atual situação pessoal e pastoral dos Presbíteros do Regional Oeste 1.
Coxim, 01 de abril de 2021
Prot. N. 08/21
Quinta Feira Santa
Aos Padres (jovens e não) do Regional Oeste I.
Queridos Irmãos,
Na iminência da Semana da Páscoa (há anos consagrada no nosso Regional ao encontro fraterno dos Padres Novos e aberto aos outros), pensei entrar em contato com vocês com esta simples carta, para manifestar-vos a minha proximidade. Primeiramente quero, em nome dos outros meus irmãos Bispos, agradecer cada um de vocês pelo desempenho espiritual e pastoral realizado neste tempo de pandemia.
É inútil repetir o que todos falam: é um tempo diverso, atípico, difícil.
É este o tempo que Deus nos dá, é este o tempo da nossa salvação.
Gostaria compartilhar com vocês algumas reflexões sobre atitudes negativas e positivas neste tempo de pandemia.
Atitudes a serem evitadas e superadas:
- Reclamação e choradeira.
Não podemos fazer o que fizemos até agora. Gastamos tanto dinheiro pra construir salões imensos e lindos e agora não servem pra nada. Talvez o dízimo tenha diminuído etc. Mas, não somos capazes de virar o lado da moeda? Tem tanta gente que está sofrendo, tantos perderam a vida, outros o emprego. Para nós está faltando algo na nossa mesa, na nossa conta bancária, na nossa casa?
Em vez de reclamar, temos só que agradecer a Deus.
- Desejar voltar quanto antes ao velho estilo.
Sejamos conscientes: o velho não voltará mais, não como era antes. Hoje se fala do novo depois da pandemia. Mas se este novo for o velho com roupa nova, não servirá para nada. É a velha lógica do “Gattopardo”: mudar tudo pra não mudar nada.
Então, o novo deve partir de nós, do nosso coração, da nossa conversão.
Desde 2007 (Aparecida) falamos de conversão, mas o que fizemos até agora?
São os acontecimentos que nos obrigam a realizar o que Deus nos pediu há tempo.
Atitudes certas.
- O NOVO depois da pandemia.
Ninguém sabe no que consiste. Primeiramente temos que mudar o nosso modo de pensar, refletir sobre os valores importantes da vida e procurar sempre e só o essencial.
Esta última palavra, para mim, é a palavra mágica do futuro.
Está sendo usada nos protocolos de vigilância sanitária. Deve ser usada na nossa pastoral e na nossa vivência sacerdotal.
Tenhamos a coragem de nos perguntar: tudo que fazíamos até agora e a maneira como o fazíamos era o certo? Servia para criar comunidades verdadeiramente cristãs, de Discípulos Missionários?
- Acolher as inspirações do Espírito.
Neste período assistimos a tantos gestos de criatividade (na liturgia e na caridade). As equipes da Pascom, que até agora estavam engatinhando, estão mais presentes e criativas, para facilitar a proximidade nas Missas e em outros momentos de catequese ou piedade popular.
Agora, também para o trabalho presencial, está-se formulando um modo novo de agir.
- Saber colher as oportunidades que estão surgindo.
Estas oportunidades estão nos obrigando a mudar muita coisa. Por exemplo, na catequese, estamos descobrindo o papel da família. Sempre falamos que ela é responsável na educação da fé dos filhos, mas ela delegava para nós. Agora somos nós que delegamos e colaboramos.
Outra descoberta: a oração em família.
O uso das estruturas pastorais que temos: salões, salas de catequese e outros. Até agora foram usadas uma vez por semana ou nas festas. Quando vão iniciar a ser usadas para a evangelização e para a caridade, colocando-as a serviço da comunidade e da sociedade? Se pensamos bem, foram todas construídas com a colaboração do nosso bom povo de Deus.
Um assunto importante: a JUVENTUDE.
Estamos percebendo, neste tempo de pandemia, a diminuição ou quase ausência dos Jovens. Estão ficando os Acólitos (adolescentes) e alguns dos Movimentos.
É claro que o que estou dizendo não é igual em todos os lugares.
Dias atrás eu encontrei um jovem que sempre ia na Missa aos domingos, fazia leituras e ajudava em outras coisas. Perguntei: por que não está indo mais? “Eu assisto no facebook” foi a resposta dele. O que fazer? Nalguns casos, tem que começar de zero. Em outros, inventar maneiras diferentes de proximidade e de inserção na comunidade. Formar através das atividades. Seria o estilo do Oratório de Dom Bosco.
E para a nossa vida espiritual, o que nos diz este tempo?
Nunca pensar que estes anos são tempo perdido. Poderão ser, se não aceitamos as oportunidades que nos dão. Tivemos mais tempo para rezar e estudar. Aproveitamos?
Refletimos sobre o essencial na nossa vida de padres, seja em nível espiritual seja em nível material (dinheiro, casa, carro, mordomias várias)?
Que valor damos ao sucesso, aos elogios, à aprovação do povo?
A nossa gratificação depende das atividades ou está dentro do nosso coração?
Todos estamos ajudando os nossos fiéis a viverem a fé, apesar das limitações do tempo. Isso vale para nós. Como disse no início, este é o tempo que Deus nos dá para fazer-nos santos. Aceitemo-lo e vamos em frente com a “alegria do Evangelho”. Imitemos São José, o homem que não fala nada, mas faz a vontade de Deus sem discutir. Ele que enfrentou tantas dificuldades para salvar Maria e Jesus, nos ajude a defender e ajudar o nosso povo neste momento tão difícil e ameaçador.
Queridos irmãos, renovemos as promessas sacerdotais com fervor e vivamos na paz.
Com o meu abraço fraterno, a bênção do Senhor,
Dom Antonino Migliore
Bispo Referencial para o Clero do Regional.