Agosto, “Cristo está vivo! Vá dizer aos seus irmãos”
Toda vocação é para revolucionar. Deus quando chama alguém para uma vocação específica não o/a chama para um mais do mesmo. Infelizmente, as pessoas chamadas não têm consciência disto e passam a ser uma cópia fiel de milhares de outros/as que já perambulam pelas avenidas da existência.
Hoje, principalmente nós católicos vivemos uma era de lamentações: “ah, ninguém mais quer nada com nada”. Aí a gente pergunta: “quem não quer o quê?” e aí surgem um rosário de categorias que não querem mais nada com a Igreja e nem com a religião. Na verdade, o que as pessoas não querem é ser o que muitos de nós somos. Nos sentimos os bem-aventurados, alguns/mas se sentem inclusive donos/as da Igreja e não permitem que ninguém se aproxime de seu espaço. Somos vocacionados/as à missão e essa missão não é nossa propriedade, por melhor que sejamos, a missão não é nossa, a missão é Deus, e devemos nos darmos conta, que o bem que fizemos e fazemos tem tempo e história, que as gerações passam e o mesmo bem precisa ser feito, mas com um jeito novo.
Nos estressamos, quando os cantos cantados nas celebrações não são os nossos, e se alguém nos pergunta onde os aprendemos, com o sorriso nos lábios dizemos, nos bons tempos da minha juventude, lá por volta dos anos 60 ou 70, e nos esquecemos que isso foi no milênio passado, para nós parece que foi ontem, mas para quem está vivendo agora, isso equivale dizer “no tempo dos dinossauros”.
Enquanto nos prendemos no infrutífero saudosismo ou envernizarmos nossas velhas armadilhas com cores novas, o mundo, que nunca para vai girando a uma velocidade vertiginosa, que não permite entrave e atropela com sua tecnologia, tudo o que insiste em permanecer antigo, velho. O tema do mês vocacional deste ano de 2022, “Cristo Vive! Somos suas testemunhas”, nos adverte, que é preciso acelerar nosso fazer vocacional, o Cristo não pode ficar emparedado em nossos santuários devocionais como um objeto de estimação, Ele está vivo, e por mais que alguém queira prendê-lo em seus relicários lindos, mas altamente contaminados de egoísmos, nunca irá conseguir. Ele não é o Cristo do cenáculo, Ele é caminho, como o caminho de Emaús, o caminho da Samaria. Enquanto nós nos sentimos vocacionados especiais nos debatemos com teologias e doutrinas, outros, considerado por nós como de segunda categoria, vão enchendo o mundo com os seus deuses e ensinamentos. Interessante, que ao contrário de nós especialistas em vocação, eles crescem de modo assustador e sabem por quê? Porque o Deus, que eles pregam é mais simples e mais humano que o nosso.
O lema “Eu vi o Senhor!” (Jo 20,18), traz a grande riqueza da descoberta da presença de alguém, que supera as burocracias e os tramas legalistas e se faz presente tal qual é, aberto a acolher o outro com toda a sua essência, mesmo que esta seja aparentemente insignificante, mas o seu olhar, a sua palavra agiganta a experiência e faz ecoar sua mensagem: “vá dizer aos meus irmãos (Mt 28,7-10)”. Isso, diga a todos, que estou vivo e essa missão não exige burocracia, meritocracia ou qualquer outra “cracia”, isso exige paixão, entrega, adesão a um projeto de irmãos, onde reina a fraternidade, o respeito e ninguém é melhor que ninguém, pois, quem é escolhido para dirigir, necessariamente deve se fazer o menor de todos.
Cristo vive! E se de verdade somos suas testemunhas, está na hora de descermos dos pedestais e tablados onde nos colocamos por acharmos que a nossa vocação é mais especial que as demais. Vocação não se mede por poder, mas pelo serviço, que confere dignidade a todo sim dito e assumido com o coração de discípulo/a.
O batismo nos faz iguais e é ele o mais importante dos sacramentos, os demais são serviços e vivência, e nesta dinâmica, quem quiser ser o maior, precisa viver como aquele que primeiro serve.
Acredito, que isso sim promove vocações cristãs. As roupas, os glamoures, as pomposidades não passam de fogos fátuos com existência breve de uma beleza pálida.
Sejamos felizes com o nosso chamado e honremos o chamado dos/as irmãos/ãs como merecem.