Sínodo: A Igreja para e escuta os gritos que vêm da Amazônia
Só foi o Papa Francisco convocar o Sínodo para Amazônia, que começou a falação. Uns contra outros a favor. Uns vibrando com esta tamanha ousadia, outros lhe tachando de “sem noção” etc. O certo é que ele, Francisco como sempre fez até agora, seguiu firme em seu projeto e provocou a Igreja a escutar os gritos que chegam dos Povos e da Natureza da Amazônia.
A CNBB atenta e fiel aos passos de Francisco, criou a REPAM (Rede para Amazônia), confiou o trabalho de articulação para a escuta da Amazônia a uma comissão, de onde o Papa escolheu o Secretário do Sínodo, Dom Claudio Humes. Nos moldes de Francisco, a REPAM escutou a todos. Deu voz a todos os habitantes da Amazônia Legal e parou para ouvir todos os gritos, gemidos e suspiros vindos do coração da Amazônia. Foram meses de encontros, de celebrações, de grandes lutas em busca de uma verdadeira escuta, onde a voz dos Povos Tradicionais, Indígenas, Ribeirinhos, que quase nunca é escutada, desta vez pudesse gritar alto e em bom som, quais são seus anseios, desejos e necessidades.
Fruto deste trabalho, foi lançado dia 17 de junho, o Instrumento de Trabalho do Sínodo, que recolheu os gritos dos 9 países, que compõem a Amazônia Legal. Segundo Dom Rafael Cob, também membro do Conselho Presinodal, e bispo do Vicariato Apostólico de Puyo, Equador, o documento se constituiu em quatro eixos estruturais: escuta, diálogo, inculturação e profecia, em torno do eixo central, que é o rosto amazônico e mergulhado na ecologia integral. O bispo de Puyo destaca no Instrumentum Laboris o pano de fundo da Evangelii Gaudium, que nos chama a uma conversão pastoral, da Laudato Sí, que nos convida a uma conversão ecológica, e da Episcopalis Conmunio, fazendo uma Igreja samaritana com seus desafios e esperanças.
Um documento, que traz em si a marca do Papa Francisco e do seu projeto de renovação da Igreja. Uma Igreja em saída, que se faz ouvinte das dores e esperanças de seu povo, e que na atitude de escutar, o traz ao centro, fazendo dele protagonista e não somente meros escutadores, mas os escutados, que sabem como ninguém o que lhes falta e o que lhes é mais conveniente neste momento da História da Humanidade. O clamor que vem da Amazônia é um clamor de quem sabe, que se não a preservarmos, em muito breve também não teremos a menor chance de sobrevivência.
Um dos gritos que ressoa mais alto na escuta do Sínodo, é a necessidade dos cristãos católicos poderem acessar o direito aos sacramentos. Uma Igreja mesmo ativa e missionária como é a da Amazônia, não pode sobreviver sem o alimento, que lhe dá sustentação, a Palavra, a Doutrina e os Sacramentos. Para que essas necessidades sejam superadas serão necessárias algumas mudanças possíveis e plausíveis na questão do sacerdócio. O documento, sem questionar o celibato a qualquer momento, argumenta que “para as áreas mais remotas da região, estude-se a possibilidade de ordenação sacerdotal de pessoas idosas, preferencialmente indígenas, respeitados e aceitos por sua comunidade, mesmo que já tenham família constituída e estável, a fim de garantir os sacramentos que acompanhem e sustentem a vida cristã”. Ao mesmo tempo, é necessário” identificar o tipo de ministério oficial que pode ser conferido às mulheres, tendo em conta o papel central que desempenham hoje na Igreja Amazônica”, aspectos que realmente abrem a possibilidade de encontrar novos caminhos para a Igreja.
E esta será certamente a maior profecia, que a Igreja realizará em sua história. Uma Igreja, que já Mãe, se tornará samaritana, porque além de gerar pelo Batismo, terá condições de acolher e cuidar daqueles que necessitam do Perdão e da Eucaristia. Com isso, a Igreja resgata o verdadeiro sentido de ser ministerial e servidora. As pompas e circunstâncias, os templos salomônicos de alguns centros, vão estar no mesmo nível, que as vestes surradas do sacerdote da tribo, que celebra em uma oca, ou mesmo sob árvores. O mais bonito de tudo isso é que o Corpo e o Sangue de Cristo chegarão como sempre deveria ter sido, aos grandes e pequenos, ricos e pobres, e na Eucaristia não haverá diferença entre os seguidores do Caminho.
Cabe a nós católicos de todo Continente, empenharmo-nos para que os gritos lançados pelo Sínodo, façam eco em nossos corações e acolhamos a voz do Sínodo como a voz da Trindade Santa, que outra vez vem nos chamar de volta ao caminho da Irmandade, da Solidariedade e da Partilha.
Feliz Sínodo para todos nós!